ATA DA QÜINQUAGÉSIMA QUINTA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 04-12-2003.

 

 


Aos quatro dias do mês de dezembro de dois mil e três, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e dezoito minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadã de Porto Alegre à Senhora Helena Conti Raya Ibañez, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo n° 425/03 (Processo n° 5799/03), de autoria do Vereador Cláudio Sebenelo. Compuseram a MESA: o Vereador João Antonio Dib, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; a Senhora Helena Maria Silva Coelho, Procuradora-Geral do Estado do Rio Grande do Sul; a Senhora Maria Hilda Marsiaj Pinto, Procuradora-Geral da República da 4ª Região; o Senhor Antônio Giroto, representante do Vice-Governador do Estado do Rio Grande do Sul, Senhor Antonio Hohlfeldt; a Senhora Cléa Carpe da Rocha, Presidenta da Associação Americana de Juristas Continental; o Desembargador Luiz Felipe Brasil Santos, Presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família – Seção do Rio Grande do Sul; o Senhor Manoel Cláudio Borba, representante da Secretaria Estadual da Cultura; o Senhor Eduardo Viana Pinto, representante do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre; a Senhora Helena Conti Raya Ibañez, Homenageada; o Vereador Cláudio Sebenelo, na ocasião, Secretário “ad hoc”. Ainda, o Senhor Presidente registrou a presença da Senhora Sônia Sebenelo, esposa do Vereador Cláudio Sebenelo. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Cláudio Sebenelo, em nome das Bancadas do PSDB, PCdoB, PPS e PSB, afirmou a justeza da honraria hoje entregue pela Câmara Municipal de Porto Alegre, destacando a participação efetiva da Senhora Helena Conti Raya Ibañez na promoção do debate de idéias e na difusão da ciência junto à comunidade porto-alegrense. A Vereadora Margarete Moraes, em nome da Bancada do PT, parabenizando o Vereador Cláudio Sebenelo pela iniciativa da presente homenagem, salientou a atuação jurídica e intelectual da Senhora Helena Conti Raya Ibañez. Também, lembrou fatos da época em que foi colega de Sua Senhoria no curso de Magistério. O Vereador Beto Moesch, em nome da Bancada do PP, declarando ser a educação e o fortalecimento das instituições sociais elementos fundamentais à efetivação e ao desenvolvimento da democracia, enalteceu o trabalho realizado pela Senhora Helena Conti Raya Ibañez em sua passagem por instituições ligadas à área educacional e à área da advocacia. O Vereador Sebastião Melo, em nome da Bancada do PMDB, enfatizou o papel do advogado na concretização das transformações políticas e sociais de um país, mencionando que há mais de quinze anos a Homenageada coordena um Curso Permanente de Direito de Família no Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul - IARGS. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, citando lembranças que possui da Homenageada durante a década de sessenta, quando Sua Senhoria foi professora do Instituto de Educação, enfocou as qualidades de advogada, professora e de cidadã que embasam a homenagem da Casa à Senhora Helena Conti Raya Ibañez. Após, o Senhor Presidente convidou o Vereador Cláudio Sebenelo, os filhos da Homenageada, Débora e Sílvio Ibañez, e o Desembargador Luiz Felipe Brasil Santos para procederem à entrega do Título Honorífico de Cidadã de Porto Alegre à Senhora Helena Conti Raya Ibañez, concedendo a palavra à Sua Senhoria, que agradeceu o Título recebido. A seguir, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às vinte horas e trinta e cinco minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária da próxima segunda-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador João Antonio Dib e secretariados pelo Vereador Cláudio Sebenelo, como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Cláudio Sebenelo, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pela Senhora 1ª Secretária e pelo Senhor Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Senhoras e senhores, boa-noite. Nós estamos aqui hoje reunidos para a outorga do Título de Cidadã Honorária de Porto Alegre à Dr.ª Helena Conti Raya Ibañez. Normalmente, a Mesa deveria dizer qualquer coisa sobre a personalidade extraordinária que hoje está sendo homenageada. Eu diria apenas que é uma dama. Uma dama que sabe impor a sua presença, pelo seu carinho, pelo seu zelo, pelo seu gosto de reunir os amigos, pelo seu gosto de reunir os seus familiares e pelo amor que tem por esta Cidade, que hoje a adota. Então, é essa dama que vai ser homenageada por todos nós hoje.

Compõem a Mesa o nossa ilustre homenageada Dr.ª Helena Conti Raya Ibañez; a Dr.ª Helena Maria Silva Coelho, Procuradora-Geral do Estado do Rio Grande do Sul; a Dr.ª Maria Hilda Pinto, Procuradora-Geral da República da 4ª Região; o representante do Vice-Governador do Estado do Rio Grande do Sul, Sr. Antônio Giroto; a Presidente da Associação Americana de Juristas Continental, Dr.ª Cléa Carpe da Rocha; o Sr. Presidente do Instituto do Direito Brasileiro de Família – Seção/RS, Desembargador Luiz Felipe Brasil Santos; o representante da Secretaria de Cultura do Estado do Rio Grande do Sul, Dr. Manoel Cláudio Borba; o representante do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre, Sr. Eduardo Viana Pinto; o proponente desta solenidade, Ver. Cláudio Sebenelo. Há muitas autoridades presentes para serem citadas. Eu cito a Dr.ª Sônia Sebenelo e, cumprimentando-a, assim cumprimento todos os que aqui estão presentes, e todos são amigos da Dr.ª Helena.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Ouve-se o Hino Nacional.)

 

De imediato, concedo a palavra ao Sr. Vereador Cláudio Sebenelo, proponente da Sessão, que falará também pelas Bancadas do PSDB, do PPS, do PSB e do PCdoB.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. João Antonio Dib; Exma. Dra. Helena Coelho, Procuradora-Geral do Estado do Rio Grande do Sul; Exma. Dra. Maria Hilda Pinto, Procuradora-Geral da República da 4ª Região; Exmo. Dr. Antônio Giroto Ribeiro, representante do Vice-Governador do Estado do Rio Grande do Sul; Exma. Dra. Cléa Carpe da Rocha, Presidente da Associação Americana de Juristas Continental; Exmo. Desembargador Luiz Felipe Brasil Santos, Presidente do Instituto do Direto Brasileiro de Família – Seção do Rio Grande do Sul; Exmo. Sr. Manoel Cláudio Borba, representante da Secretaria de Cultura do Estado do Rio Grande do Sul; Exmo. Sr. Eduardo Viana Pinto, representante do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre; Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores; demais autoridades presentes; senhores da imprensa; senhoras e senhores, dando um destaque muito grande aos funcionários da Casa, especialmente do Cerimonial, que nos ajudaram tanto nesta data inesquecível para esta Câmara; Helena, querida de todos, dia desses manuseava um CD da novela da Globo, Mulheres Apaixonadas, e dentro dele um encarte em que o diretor Manoel Carlos respondia, entre outras perguntas, o motivo por que escolhia para todos os protagonistas de suas novelas o nome Helena. “Helena é apenas o nome de um personagem” - dizia Manoel Carlos -, “gosto dele. Acho um nome forte, de mulher que batalha, que luta, que enfrenta dificuldades e, mesmo que não as vença, sai sempre de cabeça erguida. Um nome-símbolo, digamos assim.”

Pois, se já era fácil, para mim, falar de uma pessoa que prima pela proximidade, pelo acesso imediato e sempre disponível, peço licença para plagiar Manoel Carlos, isto é, além de tudo, um nome-símbolo: Helena.

Uma das melhores descobertas que eu e a Sônia tivemos a oportunidade de fazer, durante a nossa vida, foi, indiscutivelmente, a da família Conti Raya Ibañez, que nos cativou por uma das facetas mais sedutoras das personalidades, a riqueza interna do saber, o encanto do conhecimento.

As pessoas que tiveram o privilégio, e, às vezes o desprazer, de terem nascido no século passado, em sua segunda metade, foram alvejadas e feridas pelas certezas. As características dogmáticas quase regrediam aos ábacos, aos teoremas, e nós decorávamos Beaudelaire sem entendê-lo.

Nada a ver com a prática, até as primeiras chegadas de novas notícias, uma delas de que a reta era uma curva. É o máximo dos paradoxos. Sim, uma reta era uma curva cujo raio em suas dimensões, em sua derivada, tendia ao infinito. Claro que isso se deu em minha cabeça, mais ou menos, quinhentos anos depois de "e pour si muove" de Galileu Galilei. Foi um estrondo.

Quer dizer que a ciência era feita de dúvidas, onde nada é definitivo, muito menos o Primeiro Princípio da Termodinâmica, uma organização desorganizada, imprevisível, como tudo na natureza?

A Sônia conheceu e descobriu, em um Congresso no exterior, Helena, um Prêmio Nobel de Física chamado Ilya Prygogine, que escreveu um best-seller cujo título diz tudo o que a ciência, o compromisso com o conhecimento, precisava entender: "O Fim das Certezas"!

E, nos cafés da manhã de Torres, chegamos à conclusão de que a razão não tem proprietários. Não está com ninguém, o que importa é a incerteza, o debate, o inesperado, o aleatório. É a partir da incerteza que a ciência contemporânea se alimenta e dela faz o seu combustível. A idéia de Fukuyama, do fim da história, só tem um contraponto na incerteza; só se promove quando se debate, se questiona, se instabiliza. As certezas foram a fonte e o v zero de todas as catástrofes e depressões do século passado. Esse é o pensamento de vanguarda pós-moderno e do pós pós-moderno tão incentivados por Morin e Beaudrillard. Tudo isso, Helena, para que entendas que o nosso fascínio começou na participação em discussões marcantes, que reuniam no apartamento da família Ibañez, trinta, quarenta pessoas ávidas para ouvir as mais diversas opiniões, independente de sexo, religião e ideologia. Plantava em muitas cabeças aquilo que cursos, doutorados inteiros, em muitos anos de tentativa, jamais conseguiram: o dissenso! Por isso, quando eu digo que és unanimidade, temos apenas o consenso. Mas quando confronto as duas idéias, vejo que continuas unânime em nossos corações: tu também consegues o dissenso.

São inesquecíveis as noites em tua casa, onde as pessoas se reuniam em volta de temas, de idéias, de cabeças inesquecíveis. Lembro-me muito bem do Prof. Mozart Pereira Soares, ele falava sobre “Geologia do Rio Grande do Sul”. Haveria tema mais árido e mais pétreo? Pois, duas horas depois de encerrada a palestra, em si, ninguém mexia um músculo, ávidos em preencher lacunas, historicamente não-preenchidas com a torrente de novas informações e soluções de velhos enigmas sobre o nosso chão. A abertura de sendas pelos pioneiros, dos muares ao charque, da fronteira para as feiras de Sorocaba. Pelo granítico e definitivo do geológico, pelo abstrato e efêmero do vento. E a cada reunião, a cada novo assunto, o desafio crescia, a platéia também. E não havia mais lugar para a acomodação nos dois sentidos. E as despedidas avançavam no relógio com o comentário, benedicências, maledicências de teus convidados, de teus palestrantes aos ouvintes sugeriam.

É que havia um profundo desafio dessas incertezas nas escolhas que tu e teu marido, com a paciência de ourives, criavam.

Com o passamento do Sylvio, psicanalista de primeiríssima lavra e intelectual avançado, ficamos mais pobres. Aos poucos, atrofiou-se o ciclo de reuniões que marcaram época na Cidade.

O redesenho das aldeias, ao crescerem e formarem as cidades, passam por crescimentos espontâneos e outros egressos de laboratórios especializados em urbanismo, que os Arquitetos tão bem decifram e conhecem, Débora. As ruelas dos primeiros aglomerados humanos são rasgadas por avenidas. As esquinas, em claustro, são desfeitas para dar lugares aos largos, às praças, às ágoras e as figuras humanas vão sendo rechaçadas e peristerizadas no sentido do coletivo. No entanto, o metabolismo das cidades, mais do que respeitar, adota a exceção, a personalidade invulgar – como tu, Helena – e a promovem a figura da Cidade, sempre em evolução.

Exatamente, és uma figura desta Cidade.

Desde a ousadia profissional, muito antes do feminismo explodir doutrinariamente, de quebrar os costumes judiciais, quando sugeriste a chamada “guarda compartilhada” a um juiz radical, como solução de um litígio na Vara de Família, inovando contra o establishment, abrindo uma nova rota conciliatória. Até as tarefas hercúleas, involuntárias, de estudos, de corporação, após uma profícua e vencedora senda profissional. Isso mesmo. Abrindo caminhos. Aqueles caminhos do Professor Mozart Pereira Soares, os caminhos ora marcados pela solidez da geologia do chão, ora pelos traços de personalidade dos caminhantes que éramos nós. Ousando, na linha de frente, as helenas de lutas simbólicas, vão formando grupos e caminhos com um profundo enriquecimento, proporcionado por algo raro que hoje se constitui não só o convívio, mas o prazer do convívio.

Até no esporte, o golf, preferiste a caminhada esculpindo caminhos, apenas numa estrada mais green.

O grupo Dunas Hotel, em Torres, nos proporcionou incríveis descobertas. Desde as produções locais das marisqueiras de cores incríveis na caipirinha, até as revelações que a Mafalda nos contava do Sr. Érico, buscando em seus personagens, profundos traços psicanalíticos; que pesquisou intensamente a história do Rio Grande do Sul, antes de escrever a mais marcante das trilogias brasileiras, O Tempo e o Vento, desmistificando a instantaneidade das produções, como se os escritores de sucesso fossem repentistas. Às vezes. Só às vezes. A associação talento/trabalho é muito mais freqüente.

Depois dos cafés da manhã, vinham as caminhadas com a Lia, a Ecléa, a Mafalda, a Ivete e o Milton, a Helena e mais tantos nomes que a gente não cita para não fazer injustiças. Havia sempre um fenômeno de integração e de proximidade que presidias.

E viveste cercada de psicanálise, de direito de família, de medicina pelo Sylvio pai e pelo Sylvio filho; arquitetura pela Débora; a música pelo Miguel Proença; a literatura, o cinema, o teatro do Paulo Autran, onde enfeixavas com o senso estético, comum a todas as ciências, a transformação dessa babel de conhecimentos em enciclopédias de organização de vida. Sempre em volta de um grupo de amigos e amigas. Tua amizade com o Proença, artista extraordinário, com origem nas barrancas do Quaraí, ensinou inúmeras personalidades a usufruir o prazer de ouvi-lo. Paulo Autran está muito bem de saúde, graças a Deus, é outra descoberta para usufruto dos teus circunstantes e de outras amigas tuas como a as irmãs Zilah e a nossa Zuleica.

Os carnavais podem ser avaliados por filmagens, pela presença na avenida, pela documentação que estampa o multicolorido harmônico dos desfiles e a cada noite e a cada ano a repetição das esperas. Mas também, se olharmos para o chão podemos entender seu fulgor, denunciados pelos restos de festa, confetes, serpentinas e pedaços de fantasias perdidos entre os escaninhos da relação, entre a mitologia e o ritual. Ou, abreviadamente, entre o mito e o rito. Aqui há uma festa. O carnaval e seu desfile.

As cidades são semelhantes. Promovem outros carnavais. Se passarmos nas ruas, há uma festa declarada, explícita, nas copas das árvores em forma de avenida, cores que nem em computadores se consegue, onde os personagens, ao invés de se organizarem em desfile, desorganizam-se em pequenas dádivas de felicidade, seja nos seus vôos, no seu canto ou no encanto de um beija-flor pairando o fosco esverdeado de sua penugem introduzindo e tetrapenetrando a cornucópia de flores em busca do néctar. É o rito e o mito. O beija-flor e a primavera. É um ato de amor. Mas há, através de um sentimento de menor alcance, na impossibilidade de se olhar para o céu fantasticamente azul deste fim de ano, um olhar mais fácil e passivo para o chão. E a descoberta, por indícios, de outro ritual que, como seqüela, deixa confetes e serpentinas. É o indescritível colorido do chão da Cidade, uma tonalidade a cada árvore. A cada mito, o rito nessa descomunal beleza da primavera. No fundo asfáltico, a pintura da psicomotricidade fina das flores. Mas não é só pela primavera esse arzinho de felicidade no canto da boca dos passantes, na aura fascinante das auroras recém-nascidas à beira do rio ou ao mais pictórico pôr-do-sol. É fácil perceber. A festa com rito e mito está nesta Câmara Municipal de Porto Alegre. Portanto, esta Cidade se manifesta, seus filhos aqui, neste recinto engalanado. Lá fora, quem se engalana é a natureza.

Um dia, escolheste para casar, para teus filhos nascerem, para tua vida fluir, para teu trabalho inteligente e operoso crescer. Hoje, ela, a Cidade, te escolhe com certidão, medalha e a indisfarçável euforia de te abrigar.

Mulher. Teu olhar na foto turva/Examina, desafia/e plana e chega./ Dedos tateiam curvas gregas, tua geografia/ e cada desvão de quadris./ Colinas empinadas afilam o gris umbelicado/ acinturado, viola com que afinas/ teu canto, sereia que seduz a morna/ manhã de um sudoeste. Aí, contorna/ e falseia o seio no auge, rio de rouge,/ rosa primorosa, ilhas nas maçãs do rosto,/ pôr-do-sol na floresta do teu púbis,/ festa das ruas. Houve um pouco mais,/ pernas esculturais, a esquina; ausculta o apelo/ deste anônimo glóbulo, vergonha de vermelho,/ que circula sua sina por artérias, artelhos/ e sonha quixotesco, na seda do teu cabelo:/ não perde esta graça fina, que grassa suave/ na necessidade deste andar, não definha,/ definitivamente linda, luar por onde caminhas,/ minha cidade Porto Alegre.

Por inteiro tua, a Helena das Helenas de cabeça erguida. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): A Ver.ª Margarete Moraes está com a palavra, e fala em nome do seu Partido, o Partido dos Trabalhadores.

 

A SRA. MARGARETE MORAES: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Eu compareço a esta tribuna com muito orgulho, em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores, do meu Partido, das Vereadoras e dos Vereadores, para nos somarmos a esta bela e justa homenagem proposta pelo Ver. Cláudio Sebenelo, que contou com a boa energia e com o apoio de todos os Vereadores desta Casa. Portanto, trata-se de uma homenagem de toda a cidade de Porto Alegre, porque a Sra. Helena Ibañez, a partir de hoje Cidadã de Porto Alegre, é uma intelectual, portadora de extenso e de invejável currículo, já descrito com grandes detalhes e com muito talento pelo Ver. Cláudio Sebenelo, um currículo, sem nenhuma dúvida, de contribuição à sociedade gaúcha e porto-alegrense, em múltiplos aspectos, no seu jeito de ser e de estar no mundo que certamente traduzem concepções, visões de mundo, uma filosofia de vida. Pois, seja na condição de professora, minha colega da escola pública, da rede pública, no interior, como em Passo Fundo, em Marcelino Ramos, ou no legendário Instituto de Educação Flores da Cunha, ou na condição de advogada, de alguém que é uma operadora do Direito, ou como comunicadora, ainda na condição de intelectual, de uma pensadora da nossa realidade, uma mulher que sempre tem opinião em relação à filosofia, à política, ou navegando no mundo da imaginação e dos sonhos, no mundo da literatura, ou ainda expressando suas idéias em publicações na imprensa, ou na condição de militante nas entidades de classe a que pertence, como na Ordem dos Advogados do Brasil, ou no Instituto dos Advogados do Brasil, ou no Instituto dos Advogados do Brasil. A senhora, Dra. Helena Ibañez, como o nosso Presidente a chama, uma grande dama, também é uma qualidade muito importante, sempre se destaca com muito brilho, com muita coerência por sua capacidade de organização ou pela acolhida delicada que tem na sua casa, sobretudo, porque ela é uma mulher que conquistou autoridade e respeito em sua atuação na sociedade, e é isso que as mulheres almejam.

E aqui eu queria citar também a Clara Bechaski ou a Sônia Sebenelo, nós sabemos, todas as mulheres sabem o quanto é difícil para a mulher atingir um patamar de dignidade, apesar de toda essa cultura conservadora, ser sujeito da própria vida e da própria história, ser dona e construtora do seu destino. E isso se agrava, considerando tempos anteriores.

Enfim, por essas e por tantas outras razões já muito bem colocadas pelo Ver. Cláudio Sebenelo, e ainda serão colocadas pelo Ver. Sebastião Melo e Beto Moesch, é que a Câmara de Vereadores de Porto Alegre, com muito orgulho, oferece esta Comenda de Cidadã de Porto Alegre como um gesto simbólico de extrema admiração e de reconhecimento público.

Portanto, neste momento nós queremos cumprimentá-la em nome do Partido dos Trabalhadores, mas também cumprimentarmos e parabenizarmos o Vereador, médico, poeta, Ver. Cláudio Sebenelo, porque ele é o autor e o maior responsável por esse belo momento que a Câmara de Vereadores vive agora. Muito obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Beto Moesch está com a palavra pelo Partido Progressista.

 

O SR. BETO MOESCH: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa demais presentes.) Nós não teríamos, Sr. Presidente, tempo regimental disponível apenas para citar as diversas autoridades que compõe hoje este plenário extremamente lotado e extremamente representativo, o que orgulha muito a Câmara Municipal de Porto Alegre. Isso já simboliza o como a homenageada é muito bem quista e a história rica que ela tem, não só na cidade de Porto Alegre, mas em todo o Estado do Rio Grande do Sul. Ver. Cláudio Sebenelo, feliz proponente desta homenagem, que fez não só um belo discurso, mas uma verdadeira poesia em homenagem à vida e às pessoas que a enriquecem. Vejo aqui várias amigas, amigos, professores da época da Faculdade de Direito da UFRGS.

Nós vivemos um grande desafio, que é o desafio do fortalecimento de uma democracia sólida, com justiça social. Mas como fortalecer essa democracia? Bom, isso requer até um seminário, muito mais do que isso. Mas duas coisas básicas compõe o fortalecimento de uma democracia, e com certeza todos irão concordar: a educação e a formação de uma sociedade, e o fortalecimento das respectivas instituições dessa sociedade.

Do currículo da Dra. Helena Ibañez: Já nos anos 40 foi professora primária e inspetora de Ensino em Marcelino Ramos, formando as crianças da época, que hoje detêm o poder neste País. Depois foi professora adjunta em Passo Fundo. Enfim, lecionou por diversas vezes.

É advogada, portanto minha colega, sob a inscrição 2.738.

Aprendi com o meu primo, hoje Desembargador Francisco José Moesch, quando estagiei no seu escritório, que o advogado é o agente das transformações de um país. Ninguém mais do que ele deve zelar pelo seu cliente e, portanto, pelo desenvolvimento da sociedade.

Procuradora do Estado, instituição ainda a ser reconhecida pela sociedade gaúcha, instituição essa indispensável para o fortalecimento do Estado, Estado como ente, o que aprendi também, desde cedo, com meu pai, Procurador do Estado, Guido Moesch, que lhe transmite um abraço.

A nossa homenageada passou por diversas instituições, justamente buscando o fortalecimento dessas instituições, através da formação, porque, com certeza, já entendia que nós precisamos, para uma democracia forte e com justiça social - repito -, ensinar e formar, fortalecendo as instituições. Portanto, essas instituições têm de oferecer ensino, formação, discussão. Assim foi, por exemplo, Diretora-Geral do Serviço de Assistência Judiciária da Procuradoria-Geral do Estado, nos anos 60.

Foi idealizadora e coordenadora do Grupo de Estudos de Direito de Família do Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul; Presidente do Instituto de Direito das Sucessões do Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul, aliás, instituição essa que tanto formou e forma advogados, instituição riquíssima, que é um patrimônio do Estado do Rio Grande do Sul.

Mas também a pensadora - como colocou a Ver.ª Margarete Moraes, a pensadora Helena -, pessoa que entendeu, desde cedo, a importância do papel da mulher numa sociedade, procurando justamente, Ver.ª Margarete, como colocaste, passar por barreiras conservadoras de uma sociedade a qual, hoje, já reconhece o papel decisivo de uma mulher como ela, Helena, que mostra, no seu currículo, como é importante o fortalecimento da mulher numa sociedade.

A Câmara de Vereadores de Porto Alegre, que também é uma instituição que busca o seu fortalecimento, como todas as demais, vem aqui, justamente, através da proposição do Ver. Cláudio Sebenelo, reconhecer a história de uma pessoa que chega a se confundir com as próprias instituições das quais participou e fortaleceu. E nós queremos aqui, ao homenageá-la, mostrar que não existem instituições fortes e, portanto, não existe democracia sem pessoas, sem agentes que acreditam nelas, que lutam por elas e as aperfeiçoam.

Portanto, muito mais do que parabenizá-la, Dra. Helena, professora Helena, nós queremos agradecer, porque tu fazes parte da história de um País, de um Estado e de uma Cidade que ainda busca, mas que está conseguindo, aos poucos, fortalecer a democracia e oferecer a justiça social à sociedade. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Registro a presença do Ver. João Carlos Nedel. O Ver. Sebastião Melo está com a palavra e falará em nome do PMDB.

 

O SR. SEBASTIÃO MELO: Queremos, inicialmente, saudar o Presidente da nossa Casa, insigne Ver. João Dib; demais colegas; a minha colega Margarete; muito especialmente o extraordinário Ver. desta Casa, Cláudio Sebenelo, que nos proporciona este momento de homenagem justa; e a nossa homenageada, Dra. Helena Ibañez e, ao saudar a Senhora, essa saudação é extensiva a todos os seus familiares, que são muitos aqui, porque é um momento importante, indiscutivelmente, quando se recebe um título da nossa Cidade.

Peço permissão para saudar a tantos operadores e operadoras do Direito, na figura da nossa ex-Presidente da Seccional do Rio Grande do Sul, grande advogada Cléa.

Do meu lado esquerdo, vejo a professora e ex-Presidenta, e um outro ex-Presidente que aqui nos acompanha, Dr. Levenzon. Em nome de uma Presidenta e de um ex-Presidente, eu quero saudar a todos, especialmente aos advogados, às advogadas, aos magistrados, enfim, procuradores que aqui estão em grande número.

Primeiramente, Sebenelo, gostaríamos de registrar que quando esta Casa delibera, ela está falando pelo conjunto da sua Cidade, de forma plural, porque aqui têm assento todas as matizes e todas as Bancadas, e o Título da Senhora percorreu aqui os caminhos do Regimento e recebeu a unanimidade desta Casa, e recebeu a unanimidade pela caminhada de cidadania que a Senhora vem desenvolvendo, e este Título não é para aposentadoria, é título para continuar a caminhada, porque a Senhora tem muito a contribuir ainda com a nossa sociedade gaúcha e brasileira.

Eu aqui quero destacar um pouco desta figura operadora do Direito. Disse muito bem o Ver. Beto Moesch: “A advocacia é um desafio permanente, é uma luta diária em busca de cidadania”, ao advogado é colocado diariamente lutas individuais e coletivas que centenas de pessoas, às vezes, por mais que lute, o advogado nunca alcança. E não basta ter uma Constituição cidadã, que diz que todos têm direito à justiça e acesso à justiça. Isso não é verdadeiro no País que nós vivenciamos, minha querida Procuradora, porque centenas de pessoas batem na porta de uma brava Defensoria, mas que é muito aquém das necessidades da população; uma Justiça cara, inacessível para muitos. Então, quando esta Casa, Professora, lhe homenageia, ela lhe homenageia porque a senhora preferiu o coletivo. A senhora, há mais de 15 anos, coordena um curso permanente de Direito de Família, o nosso querido IARGS, Instituto dos Advogados, parceiro da nossa Ordem dos Advogados, Dra. Cléa, em muitas caminhadas. E nós, que militamos na Ordem, sabemos que o IARGS tem toda uma caminhada a favor da vida, a favor da cidadania e da liberdade democrática. E com esta Casa se destaca, sou Vereador de primeiro mandato, mas não foi uma e nem duas que eu procurei lá o Dr. Fernando Magnus, um dos membros para opinar sobre projetos que tramitam nesta Casa, sejam da nossa autoria ou não. E sempre recebemos, Presidente, a resposta positiva no sentido que nós pudéssemos contribuir, enquanto entidade, com a nossa cidade de Porto Alegre, porque, quando há uma manifestação nesse sentido, está contribuindo com a Cidade.

Então, por isso, Professora, Funcionária Pública, Radialista, Articulista de Jornal, Apresentadora de TV, a nossa Professora. Com muito gosto e com muita alegria, quando vi na nossa agenda da Casa esta homenagem, disse ao nosso querido Ver. Cláudio Sebenelo que faríamos e estaríamos aqui, nesta data de hoje, para que, em nome da nossa Bancada do PMDB, em meu nome do meu colega Ver. Haroldo de Souza, fazer esta modesta, mas muito carinhosa saudação. A senhora é daquelas pessoas que justificam a caminhada terrena, porque aqui nós passamos e vamos nos reencontrar logo ali na frente. E esta caminhada vale a pena, porque cada um de nós tem a nossa missão, a senhora vem cumprindo rigorosamente para com seu próximo, para com a nossa sociedade.

Então, portanto, o nosso abraço muito fraterno, muito carinhoso, nesta data em que Porto Alegre lhe confere este Título, esta Cidade plural, que recebe passo-fundenses, goianos, nordestinos, brasilenses e figuras internacionais, portugueses, alemães, italianos. Esta é a nossa querida e amada Porto Alegre, e todos nós somos construtores desta bela e extraordinária Cidade de alma, de sentimento e de coração. Parabéns, Professora. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) É evidente, que uma solenidade desse porte, que literalmente lota as dependências desta Casa, que faz para aqui afluir representativas pessoas da sociedade gaúcha, que o meu Partido, o Partido da Frente Liberal, mesmo correndo o risco de, pela sua ousadia, empanar de certa forma o brilho dessa solenidade, e o risco maior ainda de ser repetitivo em algumas das colocações feitas, registrando a sensibilidade do Ver. Cláudio Sebenelo, na propositura desta homenagem, mesmo nessa circunstância e nessas condições, nós não poderíamos cometer o pecado da omissão. Não juntarmos a nossa voz àquelas homenagens que já foram justamente prestadas a Dra. Helena, neste dia e nesta hora, seria uma omissão imperdoável.

De fato, nós, que temos contra a circunstância de sermos mais avançados na idade até recordamos com alegria e felicidade, quando, revendo o seu alongado e ilustrado histórico, nos lembramos dos idos de 59, 60 e 61, quando ainda jovens, íamos ao Instituto de Educação, nas caravanas estudantis, no trabalho da União Metropolitana dos Estudantes Secundários de Porto Alegre, e lá encontrávamos uma professora de Português que nos alertava, já naquela ocasião, sobre alguns problemas que enfrentaríamos pelo tempo todo, das nossas deficiências de dicção.

Lembro mais, lembro da sua atuação como advogada no IAB, por excelência, e lembro-me que, alguns anos depois, já formado na Faculdade de Direito, tive a oportunidade de ver a outra faceta da mestra que eu havia conhecido, e que agora era uma operadora do Direito.

Esse quadro simples, aparentemente, tem um universo muito grande, porque tenho dito em atuações reiteradas que as pessoas que fazem e que realizam as suas atividades com amor, com carinho, com o coração, normalmente fazem muito melhor do que aqueles que fazem automaticamente as suas atividades.

Eu a conheci como mestra, eu a conheci como advogada, eu a conheci como cidadã e sei que o Ver. Sebenelo dificilmente vai encontrar na cidade de Porto Alegre alguém que tenha essa simbiose de valores que permita, numa só pessoa, a gente homenagear tantas qualidades.

Por isso, Dra. Helena, eu vim à tribuna, correndo todos os riscos que anunciei de início, mas convencido de que o meu tipo de ser não me permitiria deixar de homenageá-la nesta hora, porque a senhora consegue simbolizar, na sua forma de ser, todos aqueles atributos que a transformam nesta mulher encantadora, nesta profissional competente e sobretudo nesta cidadã admirável.

Com estas palavras, que não são convencionais, com estas palavras, que são refletidas e, ainda que transbordadas no improviso da emoção, quero dizer-lhe que meu velho mestre Armando Câmara tinha razão: “O valor é a relação de conformidade do dinamismo do ser com seus fins”. E só vale quando a gente acredita naquilo que faz, e, como a senhora sempre acreditou nas coisas que realizou como mestra, como professora, como advogada, como cidadã, como força viva da nossa comunidade, a senhora é tudo isso que encantou o Ver. Cláudio Sebenelo e que ele transferiu para todos nós. Eu tenho certeza de que o Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre hoje se engrandece em muito, porque além dos talentos, das qualificações dos seus vários integrantes, agora, na sua galeria, nós teremos uma mulher com os atributos e qualidades que a senhora possui, e vai ficar muito engrandecido. Muito obrigado por ter nos ensejado, pelo exemplo, a possibilidade desta homenagem, deste resgate. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Agora é chegado o momento da outorga do Título e da entrega da Medalha, e eu chamo os filhos, Débora e Sílvio, e o Ver. Cláudio Sebenelo, autor da propositura, para que vivam intensamente este momento com a nossa Cidadã Helena. Por favor, tenham a bondade.

 

(Procede-se à entrega do Diploma e da Medalha.) (Palmas.)

 

Cidadã Helena, as homenagens não ficam por aí, quem tem méritos fica feliz quando são reconhecidos.

Convido o Desembargador Luiz Felipe Brasil Santos, Presidente do Instituto de Direito Brasileiro da Família, Seção do Rio Grande do Sul, a também proceder à entrega do Troféu de Mérito à nossa querida homenageada.

 

(Procede-se à entrega do Troféu de Mérito.)

 

Neste momento, convidamos a nossa mais nova Cidadã de Porto Alegre para fazer uso da palavra, dizendo do seu sentimento.

 

A SRA. HELENA CONTI RAYA IBAÑEZ: Exmo. Sr. Vereador Dr. João Dib, digníssimo Presidente da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, Exmos. Srs. Vereadores de Porto Alegre, muito dignas autoridades já mencionadas, amigos e colegas, o Vereador Dr. Cláudio Sebenelo atribuiu-me a honra e imensa responsabilidade ao indicar o meu nome para receber o Título de Cidadã de Porto Alegre.

Procurei saber o teor da Lei nº 1.534, de 22 de dezembro de 1955, que cria o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre. (Lê.): “Art. 1º - É instituído o Título Honorífico de ‘Cidadão de Porto Alegre’, que será conferido a pessoas que se tenham distinguido em qualquer dos ramos do saber humano ou que, por sua ação, se hajam tornado merecedores do reconhecimento da Cidade. Martim Aranha, Prefeito.”

Logo após, a Dra. Sônia Sebenelo teve a gentileza de enviar-me a relação das personalidades ilustres a quem foi conferido este insigne Título, entre os quais reconheci, com muito orgulho, grandes amigos.

Embora não me devessem incluir nesse grupo especial, onde estou pela generosidade e magnanimidade desta Câmara, diante dessa honraria pus-me a cogitar sobre como se deu o início dos inícios desta Cidade, que hoje me homenageia.

Podemos incluir entre os heróis, construtores da sociedade e das histórias humanas, em condições de igualdade com maiores, o patriarca Jerônimo de Ornelas M. e Vasconcelos, o homem de visão que, ocupando com seu pouso, e, depois “estância de criar”, as terras que constituem hoje o município de Porto Alegre, deu início ao povoamento e fundação da mais tarde Capital do Rio Grande do Sul. Jerônimo de Ornelas, tropeiro-bandeirante, chefe de família patriarcal, iniciador voluntário de povoamentos, orientou suas atividades sempre dentro dos princípios liberais, aliás, uma das convicções norteadoras dos açorianos e outros ilhéus. Jerônimo de Ornelas, originário da ilha da Madeira, trazia já no sangue o germe, que aqui se desenvolveu, do mais autêntico educador, do caráter e da têmpera nobre e elevada do gaúcho. Jerônimo de Ornelas, o primeiro proprietário do terreno em que se assenta Porto Alegre, iniciador do seu povoamento, em 05 de novembro de 1740. No final de 1751, chegava ao Desterro, hoje Florianópolis, nova leva de casais. Destes, o Governador selecionou 60, os quais desembarcaram no Porto dos Dornelles, já com terras delimitadas e algumas casas, toscas, mas habitáveis, a sua espera para definitiva instalação. Chegado os casais da leva de 1752, foram instalados uns no Morro Santana; outros pelas margens do Guaíba. Parte dos antigos casais, que se dedicaram ao plantio e à moagem do trigo, situaram suas casas e moinhos nos altos da atual Av. Independência, formando o hoje denominado bairro dos Moinhos de Vento, num culto ao nome primitivo. Dizem os historiadores simplistas que a bela localização à margem do Guaíba e o encantamento dos morros “cremados” que a cercam teriam denominado a denominação Porto Alegre. Porto Alegre passou a ser a Capital do Rio Grande do Sul quando era apenas uma freguesia. No mesmo dia da coroação de D. Pedro I, no Rio de Janeiro, dia 12 de outubro de 1822, Francisco Xavier pedia a D. Pedro a elevação de Porto Alegre à categoria de Cidade, o que conseguiu sem dificuldade.

Enfim, nobres Vereadores, eu não poderia deixar de falar algumas palavras sobre a instalação da Câmara, onde V. Exas. com tanto empenho e dedicação exercem os seus mandatos.

As Câmaras, que também se denominavam Conselhos, eram órgãos que ditavam o regime econômico dos Municípios. A elas competiam fazer posturas para o bom andamento da Cidade, ouvi-la quem governasse.

Em 6 de setembro de 1773, estava instalada a primeira Câmara de Porto Alegre, situação em que permanece até hoje, como uma organização de Poder.

Agora, quero-me reportar a esta Porto Alegre de nossos dias. Esta Cidade, contada em prosa e verso por poetas, compositores, escritores, cantores e também por nós, pobres mortais que tanto aprendemos a amá-la e a idolatrá-la. Esta Porto Alegre cuja simpatia e aconchego nos envolve e enfeitiça, a nós todos, vindos de todos os lugares, não raro nos tornamos seus filhos adotivos e aqui aportamos de mala e cuia para ficar. Nosso poeta maior, Mário Quintana, convenceu-nos de que temos um dos mais belos crepúsculos do mundo. Todos os que têm o privilégio, como eu, de poder assistir da janelas de casa a esse espetáculo de rara beleza, sabem quão verdadeiras são suas palavras. Sua paisagem é uma constante terapia e a Cidade cresce incessantemente, mas seu planejamento permite que continuemos com a mesma qualidade de vida, em níveis de locomoção, de lazer, de comércio, de necessidades básicas.

Os motivos de orgulho dos porto-alegrenses são muitos, como escreveu o historiador Sérgio da Costa Franco: "Tomamos o Brasil de assalto, em 1930, e amarramos os cavalos no obelisco da avenida. Salvamos a democracia em 1961, bailando a Dança dos Facões na Praça da Matriz.”

Mostramos ao mundo maravilhosa literatura com Érico Veríssimo, o maior de todos os nossos escritores. Ensinamos samba e dor-de-cotovelo ao País, com Lupicínio Rodrigues. Porto Alegre é o maior centro econômico cultural, político e comercial do Sul do Brasil, com influência em todo o território brasileiro. Nada disso, porém, aconteceu por acaso. Após a Independência Brasileira, os competentes e valorosos imigrantes europeus começaram a chegar em vultoso número, acelerando o progresso e o crescimento da Capital gaúcha e de todo o Rio Grande do Sul.

Em Porto Alegre, temos mais de dezenove salas de teatro, incluindo o majestoso Theatro São Pedro, em estilo barroco português, inaugurado em 1858, uma das mais belas casas de espetáculos do País, cuidado diariamente pela incansável e única Eva Sopher.

A Praça da Matriz, Centro da Cidade, é cercada pelos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, além da imponente Catedral Metropolitana Nossa Senhora Madre de Deus, cuja construção teve início em 1929 e apresenta estilo inspirado na Renascença. Também na Praça, o Palácio Piratini, sede do Governo Estadual, em estilo Luís XV, possui peças vindas da França, além de painéis pintados por Aldo Locatelli. O Mercado Público, em estilo neoclássico. A Casa de Cultura Mário Quintana, em estilo barroco, que abriga um dos mais completos centros culturais do Brasil e da América Latina. E outros monumentos emprestam rara beleza e força à nossa Capital, enchendo-nos de orgulho.

Porto Alegre é assim, tão sentimental como a cantou José Fogaça! Nosso povo ostenta o título de mais politizado do País, nossa Cidade, a Capital de melhor qualidade de vida, nossa gente, hospitaleira, bonita, elegante, romântica, culta, inteligente e feliz. Tem absoluta razão, Sergio da Costa Franco, quando diz: “É certo que nunca padeceremos do vício da modéstia”. Não posso esquecer ainda as ruas de Porto Alegre. Eu vou pedir para Mario Quintana falar por mim: “Sinto uma dor infinita das ruas de Porto Alegre onde jamais passarei/Há tanta esquina esquisita, há tanta nuança de paredes, há tanta moça bonita nas ruas que não andei/E há uma rua encantada que nem em sonhos sonhei, que faz com que o teu ar pareça mais um olhar, suave, mistério amoroso, cidade do meu andar, desde já tão longo andar, e talvez do meu repouso.”

E é esta Porto Alegre toda, tão grandiosa, que, através dos senhores Digníssimos Vereadores, me homenageia, e que eu quero, comovida e sensibilizada, agradecer e dividir com vocês, meus amados filhos, minha muito e muito querida família, e meus insubstituíveis amigos.

Ao Ver. Cláudio Sebenelo, o meu mais profundo agradecimento. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Neste momento nos encaminhamos para o encerramento desta homenagem bela, justa, justíssima mesmo. A vida tem momentos e tenho certeza de que a Cidadã Helena vive um momento de intensa felicidade. E essa felicidade precisa ser guardada no fundo do seu coração, porque é sempre muito bom. Os Vereadores, Cidadã Helena, ficaram surpresos, tenho certeza, que a Presidência, nenhuma vez, acionou o relógio, nenhuma vez chamou a atenção. A Presidência deixou fluir a Sessão normalmente, na qual os corações falaram, as pessoas receberam as mensagens com profundidade, sentiram, vibraram e a Cidadã Helena, nesta Cidade do seu andar, ainda pode conhecer muitas esquinas, muitas ruas, porque todos nós queremos que ela viva por muito tempo, dando a cada um dos seus amigos a satisfação que tem dado até agora. E nós sabemos que, assumindo a responsabilidade de ser Cidadã de Porto Alegre, vai fazer um pouquinho mais de esforço, sei que o esforço é bastante grande sempre, é de todo o coração, mas de qualquer forma, vai fazer um pouco mais para conhecer as esquinas e ruas que ainda não viu. Quero agradecer a presença das autoridades que compuseram a Mesa, dos amigos da nossa Cidadã Helena, a cada uma das senhoras e dos senhores, dizendo que esta Casa hoje foi engrandecida, neste momento, nesta homenagem que se prestou a uma Cidadã de Porto Alegre: Helena Raya Ibañez.

Saúde e paz a todos e convido-os a ouvirem, em pé, o Hino Rio-Grandense.

 

(Ouve-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Agradecendo a presença de todos, declaro encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 20h35min.)

 

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